” […] os caboclos saem protegidos tanto pela “guiada” (a longa lança de madeira) […] como pelo “calço” espiritual […]. É o ritual da purificação […] que apóia o caboclo disposto a sair num Carnaval. […]”
“Por isso, antes de sair já na 6ª feira, começa a abstinência que faz o Caboclo, até a 4ª feira de Cinzas, não mais procurar mulher, nem tomar banho ”para não abrir o corpo”, obrigando-o a dormir mesmo sujo como veio da rua.”
“Na hora que vão sair no primeiro dia todos vão para a “mesa”. O Mestre faz um preparo que se bebe com uma flor dentro do copo e mais três pingos de vela santa.”
“Aí então o Mestre autoriza a saída do caboclo. Muitos saem com um cravo branco ou rosa na boca ou no chapéu para “defesa”, para fechar o corpo […].”
“[…] a “rua” é sempre o exterior perigoso e repleto de riscos ocultos. Quem anda pelo “meio da rua” precisa estar “preparado” e protegido de todo o mal. Por isso os caboclos tomam o “azougue” [violento coquetel de pólvora, azeite e aguardente], preparado pelo Mestre. […]”
“Ao voltarem, na quarta-feira, vão logo à Igreja tomar Cinzas e “se despedirem” de alguma coisa errada feita no Carnaval. ”
* Texto de Bonald Neto (1991, p. 284) transcrevendo entrevista realizada por Evandro Rabello com o caboclo de lança, Severino Ramos da Silva, de Goiana. http://basilio.fundaj.gov.br/pesquisaescolar/index.php?option=com_content&view=article&id=545&Itemid=1
*Imagens de caboclos de lança em apresentações de Maracatu Rural no carnaval de 2006 em Nazaré da Mata, na região canavieira da zona da mata pernambucana.
Fotos de Lilia Tandaya/Profotos